Eu só sei que as coisas vão ser diferentes.
Tive essa certeza quando senti o vento que entrava pela janela aberta. O vento estava diferente aquela noite, e parecia trazer mudanças em sua composição. Mais frio que o normal, mais vagaroso, mais sutil e mais breve.
Levantei-me e me analisei diante do espelho grande da sala de estar. O vento não havia sido o único a mudar nos últimos anos. Meu rosto mudara, meu corpo mudara, meus traços agora estão mais marcados, mais evidentes, e meus olhos já não riem como antes, não com tanta frequência.
Abri a gaveta da escrivaninha, peguei o caderno velho, velho conhecido meu. Reli todas as páginas escritas do meu diário quase secreto. Meus escritos vinham mudando há algum tempo, me dei conta. Meu estilo era outro, algo mais frio, mais vagaroso, mais sutil e mais breve.
Me dei conta de que acompanho o vento... Nós dois assim tão instáveis, tão voláteis, tão andantes, tão indecisos, tão frescos, tão... incompletos. Duas almas assim tão impetuosas. Desejosas de liberdade!
Fechei os olhos, concentrei-me em escutar o que o meu irmão vento estava a me dizer.
Foi então que tive a certeza de que as coisas vão ser, sempre, diferentes.
O vento me anunciava mudanças.
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