Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre fotografias e não-saberes.

Na parede do quarto, um quadro de fotos. Aproximou-se, queria ver de perto aquelas fotografias antigas. O quadro fora presente do irmão mais velho, na ocasião dos seus quinze anos. Lembrava-se perfeitamente do dia em que o recebera: correra a pregar suas fotografias prediletas; o quadro enorme parecera pequeno de repente. Agora, ela já tinha dezoito, e ao contrário do que se pudesse pensar, não se interessava mais por colar fotos recentes no quadro velho. Havia tempos que ali não havia qualquer foto diferente que lembrasse uma nova festa, um novo amigo, uma flor novata que fosse. O quadro estava congelado no passado - como sua vida também. Perdidas no tempo, as fotografias lhe despertavam sentimentos diversos. Decorava-as de vez em quando, quando se sentia tristemente nostálgica. Apontava o dedo para a garotinha sorridente daquela foto já desgastada pela ação dos anos, e dizia num tom distante:
- Você já deveria saber que perderia a competição de natação.
À menina de quatorze anos eternizada numa das fotografias, dizia simplesmente:
- Ele nunca gostou de você, sua tonta.
Chegava então à sua foto preferida. A maior de todas, ocupava o centro do quadro. Uma menina quase moça, bonita, vestido formal, valsa. A festa de 15 anos. Um sorriso enorme no rosto de cada convidado ali retratado. A própria garota sorrindo como se tanta felicidade já não coubesse dentro de si.
A esta fotografia, costumava dizer:
- Você não sabia que aos dezoito anos seria apenas triste e solitária. Você esperava festas, bailes, vários amigos, roupas bonitas. Mas tudo o que você tem hoje é infelicidade.
A causa de tanta tristeza não sabia, e essa era a sua maior dor. Não fora assim sempre; houve um tempo em que todo dia era verão, e os passarinhos estavam sempre a cantar-lhe na janela. Mas o inverno veio chegando, e, num repente, as nuvens encobriram o sol.
Porque não era como as outras? Sempre agarrada aos seus livros, escritos e filmes intermináveis. Porque não música alta, multidões?
A garota perdeu-se em seus pensamentos. Lançou um último olhar ao quadro; encarou a menina sorridente dos quinze anos:
- Eu quero você de volta.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

e nada faz sentido.


E quando tudo parece errado, o norte perdido, o dia nublado, quando todas as coisas perderam o encanto e a vida vai ficando assim opaca, eu só consigo pensar:
- Onde está você agora?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Visita Sutil.

Hoje o mundo não parece tão assustador. O mundo de hoje não é um lugar confuso, inquieto, relutante. Não o sinto tão vasto, tão grande, tão de todos e ao mesmo tempo de ninguém. É que hoje o mundo que chega aos meus olhos é encantador... Perdeu aquela mania de grandeza. Perdeu, simplesmente, não sei onde, nem como. Apenas sei que o mundo diminuiu. Diminuiu sim, mas para caber mais gente, mais riso, mais alegria, mais conforto, mais beleza, menos solidão. O mundo que percebo hoje vem cheio de pequenezas - tão significativas! - : um céu azul imaculado, uma brisa que leva pólens e fecunda as plantas, o sol que começa a esquentar. As crianças que brincam de esconde-esconde. Os sorrisos que eu conheci. E por um segundo tudo faz sentido... A vida, os propósitos, ou não. E o mundo diminuiu... e hoje tudo tem sabor de lanche feito em casa. Tranquilidade, certezas. Como se o mundo todo fosse apenas uma extensão da minha vizinhança. Acolhedoramente, e só. Amigos, literatura, palavras bobas e muitos sorrisos. Fácil. Simples. Assim. O mundo diminuiu para hospedar mais felicidade.

sábado, 4 de junho de 2011

Promessa.


Andava distraída naquela manhã de junho. Imersa em pensamentos, perguntas e talvez algumas respostas. O sopro leve da brisa que bagunçava-lhe os cabelos. O sol que despontava, tímido. Um céu que ensaiava azul e despertava amores. E de repente tudo lhe pareceu tão certo! Todas as dúvidas dissipadas por um milagre matutino. E de repente tudo lhe pareceu tão claro! Todos os sentimentos finalmente desvendados. O riso gentil da garota ecoou pelo universo. E todo o universo pareceu sorrir em resposta.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Indelével


'Cada respiração é uma segunda chance.'


As pessoas não são descartáveis.
Um tanto quanto óbvia para muitos, mas absolutamente encantadora, essa afirmação de repente me comoveu.
É que então eu me lembrei dos momentos em que me decepcionei com alguém. Momentos em que parecia mais fácil e muito mais cômodo retirar sutilmente aquela pessoa da minha vida... "Esquecer" de dar bom-dia, de ligar no aniversário, cortar assuntos, confidências. Ignorar, fingir que essa pessoa nunca existiu, nunca fez parte de você. Sabe como é? Algo como uma declaração muda: "Não te quero mais na minha vida". Mas acontece que as pessoas não são descartáveis. As pessoas não podem ser jogadas fora. Os momentos felizes, as risadas, as mãos estendidas que tantas vezes ajudaram a me levantar - tudo isso será apagado, esquecido, ignorado, manchado para sempre por um erro cometido? As pessoas não são descartáveis... não são feito o brinquedo quebrado que anos atrás eu deixei num canto qualquer da sala de estar. As pessoas não são descartáveis. Não são como um projeto mal feito que não satisfez as minhas expectativas. Quando se trata de pessoas, é impossível amassar a folha e em seguida jogá-la no lixo.
E tantas vezes as pessoas nos decepcionam... ou nós é que nos decepcionamos com elas? Tão mais fácil rasgar o verbo, sair correndo sem olhar para trás, tão mais fácil virar a página e começar outra vez a busca pela pessoa perfeita! Sem pensar por um minuto que talvez (só talvez!) o outro valha a pena! Que o outro também tem suas próprias reclamações, sua própria visão de mundo, da vida, das pessoas, do relacionamento. O outro também é gente! Eu também sou gente! E gente que é gente erra e acerta o tempo todo. Tão mais fácil "esquecer" que a perfeição que exijo dos outros inexiste em mim!
As pessoas não são descartáveis. Que bom que quando errei encontrei pessoas que me perdoaram e que decidiram continuar perto de mim. Pessoas que decidiram que eu ainda valia a pena, que ainda valia a pena estar ao meu lado!
As pessoas não são descartáveis.
Através dessas palavras eu percebi que é necessário, ao olhar para as pessoas, ver além de um monte de erros e fracassos. É preciso olhar com amor, até enxergar ali um ser humano igual a você.