Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Conheça Lêda. Lêda, ou simplesmente Lê, é uma garota nos seus vinte e poucos anos, parecida com tantas Glorinhas, Marias, Paulas, Ivetes, Fabíolas. Lêda faz tudo como manda a cartilha: terminou a faculdade pública de Direito há um ano, estudou direitinho, passou na OAB de primeira. Tá estudando pra passar num concurso. Às vezes advoga algumas pequenas causas pra ganhar um dinheiro. 
Lê leu os livros e viu filmes do Harry Potter, assistiu os filmes da trilogia do Senhor dos Anéis, chorou quando viu A culpa é das Estrelas. Ama cinema, pena que não tem grana sempre. Pega um cineminha de vez em quando nas quartas que é o dia mais barato. Nem sempre dá pra comprar a pipoca. Paciência.
Ledinha gosta de música antiga, rock antiguinho, essas paradas mais cult. Mas não é chata também. Canta um sertanejo de boas quando dá na telha. Se diverte com a galera, é flexível e está no meio termo. Nem super legal, nem super chata. Lê é normal, sabe? Garota normal. Nem milhares de amigos, nem nenhum amigo, nem cabelo enorme nem cabelo curto, nem muita tatuagem, só três pequenininhas em lugares que dá pra esconder. Nem bonita demais, nem feia. Eu diria que Lêda é uma garota bem bacana, um tipo bom, sabe? 
Vai na igreja aos domingos, honra pai e mãe, é protetora dos animais, se bobear vai um dia participar do GreenPeace, se tudo der certo. Teve dois namorados na vida, namoros longos, eram meninos legais, mas não deu certo. Lêda sofreu mas superou. Não ficou traumatizada. A menina tem a cabeça boa, sabe?
Lê não passou no seu terceiro concurso, mesmo estudando 10 horas por dia. Sofreu bastante, mas superou. Não foi um trauma. Tanta gente é reprovada num concurso, oras. É o que o pessoal fala.
O tio ficou doente, doença grave. Eu esqueci de falar, mas Lêda é classe média legal. Bom, a família não teve condição de bancar o melhor tratamento. A fila de espera do Serviço de Saúde público era longa. O tio Geraldo faleceu esperando o tratamento. A família nunca atrasou nenhum imposto, apesar do arrocho salarial, mas tio Geraldo morreu. Sem tratamento. Mas acontece, tanta gente morre, não é? Lêda superou. Sofreu mas superou. Não foi um trauma.
Um dia o carrinho velho que Lêda herdou da tia avó parou na rua. Era o motor? Tomara que não seja o motor, Lêda pensou. Não vai sobrar dinheiro pro mecânico esse mês. Não era o motor, era só falta de gasolina mesmo. A gasolina tá cara pra caramba, não dá pra encher o tanque. Lê sempre abastece só pra ficar na reserva. Mas é assim mesmo, respira fundo, Lêda, podia ser pior.
Chegou o fim do ano e tudo que ela queria era praia, sol e sombra fresca. Que jeito? A família não tirava férias há muitos anos. Tempos difíceis. Um problema comum, também. Não é motivo de revolta, tempos difíceis, ué.
Outro dia foi o ladrão que entrou em casa. O cachorro de Lê levou bala. Foi tenso de aguentar. Pulguinha acompanhava a família já havia 6 anos. O vira-lata nem teve tempo de revidar o ataque: levou bala rapidinho. O ladrão levou algumas coisas como computador, televisão, microondas. Mas não matou ninguém. Aliás, matou Pulguinha, mas ele é cachorro, não conta muito. Todo mundo sofreu, foi difícil, mas todo mundo superou. Podia ter sido pior, podia ter atirado em gente, imagina. É agradecer ao Cosmos pela sorte e não reclamar da vida.
Cara, todo mundo superou, mas dessa vez Lêda decepcionou. Não conseguiu superar. Entrou em depressão. Quase ninguém entendia. Coisa de gente fraco, falta de um tanque de roupa suja pra lavar. Estuda mais que tá pouco, ocupa a cabeça que passa. Lêda tentou, mas não surtia efeito. Começou tratamento com psiquiatra, tomou remédio, mas precisava aliar com psicoterapia. Era caro. A família soltou cheques e mais cheques para pagar o psicólogo. Lêda estava triste e se sentia culpada, culpa que corrói. Não podia se dar ao luxo de adoecer. Depressão é doença de rico, ué. Pobre não tem o direito de diminuir sua produtividade assim de repente.
Mas Lêda surtou de vez quando decidiu cortar o cabelo curtinho, tatuar as costas inteiras de letras de músicas bonitas. Parou de estudar pra concurso. Botou mochila nas costas e cismou de viajar. Sem um centavo. A família desesperou. Mas ninguém conseguiu conter Lê. Ela ia, e foi. 
Ninguém entendeu por quê. E você?

Para você que já ficou na dúvida se as coisas iriam um dia dar certo

    Quero o novo, todas as coisas lindas que hão de chegar. Basta ter fé, e acreditar, e continuar... O bom da vida, o renovar, vai chegar, pra você e pra mim. Jogue fora o que não serve mais, o que não presta, o que passou da data de validade, o que aperta, machuca e não "veste" bem. 
Por falar nisso... Como você tem vestido sua alma? Como tem cuidado de você, da sua mente, do seu espírito? Tem se vestido de palavras boas, de energias positivas e renovadoras, de elogios, de bem querer? Tem comprado flores para você mesmo ou está chorando porque ninguém comprou flores para você? Sabe esse cantinho vazio que você carrega no peito? É, esse mesmo, que dói às vezes, chamado solidão? Lave esse canto da sua alma, esfregue bem a escuridão, perfume com alfazema e decore com flores... Não é que a solidão vá desaparecer de repente. Não, ela não vai. Mas quer saber? Torne esse cantinho mais acolhedor e talvez alguém tenha vontade de ficar. Talvez você mesmo sinta vontade de ficar ali então. E talvez perceba que aquele cantinho não é mais tão ruim, e tem beleza, e tem perfume. E nesse dia você vai descobrir que você mesmo é a melhor companhia que você pode desejar. 
    No fundo, é isso. Não queira saber das pessoas aquilo que elas não querem te contar. Não insista em ficar num lugar onde você não quer estar. Por favor, não peça sentimentos que alguém é incapaz de lhe dar. Não se pergunte o "por quê". Essa vida não faz mesmo o menor sentido.
Quando sentir vontade de desistir, se permita chorar por um momento. Mas levante logo em seguida, lave o rosto, coloque o seu batom de cor mais vibrante e bola pra frente, que a vida continua. Nada de cama. Se apertar demais o aborrecimento, bota uma mochila nas costas e vai viajar. Não dá? Pratique um esporte novo, aprenda uma nova língua, se dedique a assistir todos os filmes começados com a letra "A", sei lá. Encontre alguma coisa para fazer. 
    O segredo é não parar... O equilíbrio está no movimento. Vai em frente, menina, vai em frente que a sua paz está logo ali.
    Último recado para você. Leia com atenção, porque eu não vou repetir.
   - Não, você não tem nenhum problema, você é maravilhosa por ser exatamente como é e as pessoas que não puderem enxergar isso, eu lamento, mas elas perderam a oportunidade de conhecer esse alguém incrível que é você. E é assim mesmo, bola pra frente que a vida continua. Vai aparecer mais gente. Você vai cair em muitos abismos ainda, mas talvez numa dessas quedas você perceba que pode voar. Então, simplesmente voe... Mas para isso você precisa ser leve. Coloque então leveza em tudo o que você fizer. Como? Eu não sei. Descubra-se. Conheça-se. Uma dica: o que não é leve não consegue flutuar sobre as águas e acaba pra sempre perdido nas profundezas dos oceanos. Leveza, portanto, é NÃO PESAR. Se pesar, já era, acabou, afundou. Coisa leve flui, é fácil de carregar. Não dói as costas, sabe? Nem a consciência, nem o coração. Se ficar pesado, você já sabe. O negócio é botar leveza pra poder voar. 
    Confie em você. Eu sei que você pode, e pode ir além do que você imagina. E sim, você é a pessoa mais bacana desse mundo todinho. Por isso, aproveite o privilégio que é ser você. Vai se curtir, menina. Vai se amar. E num dia desses você aprende a se bastar. E aí vai ver que felicidade não é bicho de sete cabeças, não. 
    Você nasceu com tudo o que é necessário para ser completamente feliz.



terça-feira, 5 de maio de 2015

Entardecer.
        (Em uma tarde qualquer, seja você)
                 Cerveja
                        (Ser, veja)
                             Sorrir
                                  (Só rir)
                                          Enfim
                                               (E fim)            

domingo, 26 de janeiro de 2014

Ser ou não ser

Deserto de areia branca-negra. Não é fácil saber.
Céu rosa e não azul. Às vezes tudo parece estar errado.
Chuva mansa que cai, molhar que alivia a alma. Os amigos, seres perfeitos aos olhos de quem ama.
Amores-perfeitos num jardim qualquer. Os sábios sabem que é impossível cultivá-los.
Roda gigante que não pára. O mundo girando, e eu, muitas vezes, sentado, observando lá de cima, ora lá de baixo.
Respostas certas para tudo. Alguns fingem tê-las, outros se julgam infelizes por não conseguirem fingi-las.
Um quadro abstrato. A vida na sua crueza: tudo depende da interpretação de quem a vê.


(Às vezes
viver
machuca
mas
às vezes
viver
encanta.)



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Admirável gado novo ou A dor comum.

Loretta era uma jovem qualquer com alma de gente mais velha. Desses tipos encantadores que às vezes encontramos por aí. Um tipo que costuma colecionar livros ao invés de roupas, que sonha viagens pela Europa e não sapatos de sola vermelha. Que queria viver em Tróia ou na Grécia Antiga. Do tipo que morre de medo de se tornar alguém igual a todo mundo.
Loretta sempre fora diferente, pensativa. Pois bem: adorava pensar o mundo. E tinha idéias muitíssimo interessantes! E costumava escrever também: amava o jeito como a caneta arranhava o papel, as letras se derramando, sílabas se compondo, palavras jorrando... Esse espetáculo surdo exercia sobre Loretta grande fascínio e atração.
Mas o tempo passou e Loretta foi sendo empurrada vida afora, às vezes brusca, outras vezes docemente. O passar dos anos nem sempre era afável... A obrigação de crescer, de fazer escolhas, de fazer parte da população economicamente ativa, tudo isso consumia muito tempo e energia e muitas vezes Loretta se sentia exaurida. Pensar foi se tornando aos poucos um luxo, sentir já não era tão fácil e Loretta temia que o dia-a-dia asfixiasse sua sensibilidade.
Ah, Loretta, como era bom tirar a tarde de folga, ter tanto tempo para pensar; que exercício maravilhoso e tão pouco utilizado! Pen-sar, pe-n-sar, pens-ar, simples e puramente. Imaginar coisas bobas e infantis: o porquê de as melancias serem vermelhas e não azuis. Imaginar coisas de adulto, coisas que devem ser imaginadas: o que é preciso para que haja a paz? Imaginar coisas de quase-adulto, difíceis de serem respondidas mas totalmente coerentes: quem inventou a tristeza, a tragédia, a fome, o extermínio?
Mas as tardes de folga eram cada vez mais raras: Loretta subia na hierarquia de sua profissão. Mais dinheiro na conta bancária, mais trabalho para casa, menos tempo sobrando. Loretta não tinha mais tempo para escrever. No início lamentou, mas depois esqueceu. Escrever agora era algo restrito aos cartões de Natal.
Loretta se olhava no espelho e não se lembrava mais da jovem que sonhava viagens pela Europa, da jovem que colecionava livros, que morria de medo de se tornar igual a todo mundo. A imagem refletida era a de uma mulher cansada, soterrada pelos afazeres, destruída pelo cotidiano, perdida de si mesma. De alguém que desistira de seus sonhos.
Quando Loretta se deu conta disso, chorou. Muito.
Porque às vezes dói se tornar alguém igual a todo mundo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Não necessariamente uma opinião, simplesmente uma mera reflexão.

Não tenho aquela sabedoria antiga, característica de inúmeras mulheres - minhas irmãs ancestrais - que apenas sorriam diante dos problemas e diziam com os olhos que não se preocupe, pois o tempo irá cuidar.
Não tenho essa sabedoria inerente às mulheres bem-educadas de antigamente, essas mulheres que sabiam se calar e se dizer em momentos exatos, e se fazer, e se conter quando fosse necessário.
Mulheres que criavam dezenas de crianças até transformá-las em seres adultos e apesar de tanta preocupação e afazeres, não temiam o futuro de nenhum de seus filhos, pois sabiam que, de alguma forma, o tempo, a vida ou Deus - ou tudo isso junto - iria se encarregar de fazer dar certo.
Aquela sabedoria das mulheres passadas, que sabiam relevar, e ceder e esperar e ser verdadeiramente o pilar de uma família, essa sabedoria eu não tenho... ou ainda não adquiri.
Mulheres que se impunham e se faziam respeitar através de um único olhar. Mulheres que nasciam sabendo que o silêncio não é sinônimo de fraqueza.
Porque essa sabedoria não parece combinar com a vida moderna, que nos exige palavras, e gestos e posturas e opiniões sobre tudo e sobre todos, vida que indiretamente nos faz esboçar grandes e barulhentas reações onde antigamente caberia silêncio e paciência - o que não necessariamente significa submissão, mas isso nos parece impossível de entender.
A sabedoria de ser quem se é sem escândalos, sem gritos ou baixarias, sem necessidade de expor a todo custo o que penso ou o que quero, sem essa necessidade irritante de ganhar todas as discussões - mesmo que não tenhamos os melhores argumentos - ah, essa sabedoria parece perdida.
Será que nessa histórica caminhada onde nos mostramos competentes, capazes, onde defendemos nosso espaço social, político e público, onde conquistamos nossos tão sonhados direitos, será que nessa caminhada tão linda e tão importante, acabamos perdendo nossa sabedoria feminina? Nossa delicadeza, ternura, nossa capacidade de amar um amor que somente as mulheres - mães de toda a existência - possuem? Se sim, não sei se isso representa evolução ou retrocesso.
Ser igual ao homem... não sei se isso é natural ou até mesmo benéfico. Afinal, a sabedoria antiga nos ensina sobre o Yin e o Yang, o ponto de equilíbrio, a doçura e a força, o dia e a noite, o céu e o mar.
Só sei que em algumas horas eu gostaria de ter a sabedoria das mulheres antigas... quem sabe assim eu teria mais paz e seria mais feliz.



segunda-feira, 26 de março de 2012

A última música


Passara a festa inteira sentada à sua mesa. De vez em quando respondia com um menear de cabeça aos cumprimentos dos vários conhecidos que passavam pela frente. Aquela noite definitivamente não valia as horas dedicadas à escolha do vestido, maquiagem, sapatos, penteado, perfume. Poderia ela voltar ao tempo e abandonar os planos daquela sexta à noite? Queria tanto colocar seu pijama e ver um seriado qualquer na Tv... Esquecer que aquela noite existira.
A banda começou a tocar, ela não prestou atenção na música. Músicas românticas e estúpidas, tão estúpidas. A pista logo se encheu de casais que dançavam lentamente. A garota desejou estar em casa pela milésima vez.
Mas, espere... Estaria ela ouvindo sua música predileta? A banda começara uma nova música enquanto ela estava distraída. Aquela música sempre lhe dissera tantas coisas. Last Kiss, Pearl Jam. Duraria apenas três minutos e alguns segundos. Ela já perdera algum tempo, e sabia que a música iria logo terminar. Mas aquela música sempre lhe dissera tantas coisas. "I lifted her head, she looked at me and said,/'Hold me darling just a little while'." Momentos perdidos que não voltam mais. "I held her close, I kissed her - our last kiss./I'd found the love that I knew I had missed." Afinal de contas, é ou não 'é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã'? Pelo sim, pelo não, é preciso sim...
A menina se levantou e correu por entre a multidão de casais que flutuavam na pista. Abriu passagem por algumas pessoas, desviou de um garçom que servia outras mesas. A música iria acabar logo! Sorriu quando finalmente o avistou. Caminhou até o garoto com uma certeza daquelas que não se tem duas vezes na vida. "Well now she's gone, even though I hold her tight./I lost my love, my life - that night."
Olhando-o nos olhos, disse apenas:
- Dança comigo?
Vendo que ele iria dizer algo, ela tocou-lhe os lábios com o indicador, num gesto de silêncio.
- Não fala nada... Só dança comigo.
Ele sorriu um pouco assustado, mas atendeu ao pedido.
Ao olhar fundo naqueles olhos castanhos, ela soube que tomara a decisão correta.
"Hold me darling just a little while.'/I held her close, I kissed her--our last kiss."



Você.


A gente olha pro lado, faz que não vê, se finge alheio à vontade.
A gente olha pro lado, faz pedido pra primeira estrela que nasceu no céu, faz promessa de dias melhores caso o 'e se' se concretize, a gente esquece o orgulho e a teimosia e pede mesmo que, por favor, que seja meu... que seja nosso, por mais que a gente diga que não quer, que não, não faz diferença. A gente simplesmente assume que quer.
A gente se vê olhando pro céu e rezando baixinho:
- Meu Deus, que seja meu...
Mas o tempo passa e vai perdendo a graça, o tempo vai passando e de repente perde-se o momento. Não é nosso. Não ainda.
A gente se vê esperando, olhando relógios, contando minutos, vendo a vida passar numa janela qualquer, coração amassado contra o peito. A gente se pega encostado num batente de porta, falando baixinho:
- Um dia vai ser meu.
Mas é que o tempo vai passando mais e mais, e sem querer a gente perde a esperança, ou é a esperança que se perde da gente?
E um dia a gente se percebe num cantinho qualquer murmurando, pedindo, rezando, falando:
- Meu Deus, por quê não foi meu?!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pronta ou não, aí vou eu.


De repente você se vê andando por caminhos nunca antes percorridos, se vê falando com pessoas que jamais imaginou conhecer, se vê vivendo uma realidade que nunca pensou que um dia pudesse chamar de sua. Então você pára em frente a um espelho qualquer e analisa a imagem que ele reflete. Não, você não mudou nada. Mas, ora, por que parece ter passado tanto tempo? Tanto tempo desde... sempre? Por que as coisas estão tão diferentes, por que a vida deu assim esse giro de cento e oitenta graus, essa guinada radical? O que fazer com tanto medo, com tanta indecisão, o que fazer com tanta vontade de fazer dar certo, o que fazer com tanto deslumbramento, agora é você mesmo quem tem que decidir. Você se percebe pensando no quanto está rodeado de pessoas e irremediavelmente só, porque no final das contas é só com você mesmo que você deve contar. E agora é você quem tem que ser forte, e botar em prática todas aquelas palavras bonitas que um dia leu. Agora é você quem tem que fazer dar certo, saber onde pisar, quando correr, com quem chorar. E você chora, por que de repente se descobre meio adulto, cedo demais. E você quer, por Deus, você quer realmente ter todas as respostas. Você quer dar conta de tudo, você quer que isso seja bonito, soe bem, porque afinal, meu Deus, afinal é a sua vida que você está construindo, não é? Mas ter tanto sobre as costas é pesado, e uma hora a dor teima em aparecer. E a gente não sabe, simplesmente não sabe, o que fazer.
De repente você se vê observando um jardim qualquer, sentado num banco qualquer, procurando por uma resposta qualquer. E você acaba percebendo que talvez ande pensando demais, sentindo demais, sofrendo demais. Querendo saber demais. Por que ter todas as respostas, isso já é querer demais.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

A menina que se perguntava ou, talvez, A menina que tinha fome de respostas


A garota caminha pensativa pela ruazinha quase deserta. Passos contados, detalhes analisados, a menina caminha... Vê do outro lado um prédio grande e amarelo, escuta vozes em animada conversa. E então a menina quase para. Perde um pouco o rumo, perde-se um pouco da circunstância. Sua alma sensível voa para longe dali, e, sem perceber, a menina começa a imaginar... Haveria algum curioso numa janela qualquer? Alguém que bebesse seus passos, que admirasse seus gestos de menina perdida e só? Haveria então algum poema rabiscado num canto de caderno, haveria então alguma ode à menina que caminha tão sozinha, tão só? Por que não montes de versos e rimas que fizessem daquele lugar algo mais acolhedor? Por que não montes de almas sensíveis e sinceras, guardiãs de sonhos bons?
Por que a vida tinha de ser assim tão complicada e ao mesmo tempo tão divina, por que é que a vida tinha que encantá-la assim, daquela maneira? Por que ela tinha que amar tanto as pessoas ao ponto de gostar delas de imediato, por que tantas esperanças ilusões nuvens de algodão que insistiam em se refazer mesmo sendo rudemente despedaçadas?
Mas a menina se deu conta de que não existiam respostas. Só existia a vida, assim meio bruta, meio trágica e completamente doce... Só existia a vida e suas várias interrogações.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Sobre mudanças ou simplesmente Reticências



E de repente a vida muda. Muda o céu, a cor, o ar, muda a cidade, muda a vizinhança, muda a estrada, muda o sentido. E de repente você muda... Não por escolha, vontade ou determinação. De repente você muda simplesmente porque está nesse planeta... onde tudo é passível de mudanças. Você muda porque... sei lá. Devia estar escrito em algum lugar, num livro dos destinos, enfim. Talvez lá no fundo você até mesmo soubesse, será? Não sei.
Você muda de repente... e se vê caminhando rumo a novos desafios. Mais um ciclo que se fecha, outro pronto para começar. Mas você não planejou, de repente nem pensava nessa possibilidade ou talvez até pensasse bem remotamente, vai saber. Acontece que isso veio até você, a vida te entregou nas mãos um pacote brilhante e colorido... E você decide abrir o pacote pra ver se ele esconde um presente bonito. É isso. Você abriu o pacote, aceitou esse presente e todas as consequências que ele implica. E agora você vai mudar, porque sua vida já mudou.
Mudanças são mesmo inevitáveis. E dão medo, frio na barriga, confundem os sentimentos, dão à luz indecisões. Mas são fundamentais para o amadurecimento, crescimento e, em alguns casos, realização pessoal. Elas fazem parte do caminho que você tem que trilhar aqui.
Que seja doce, que seja belo, mesmo que não seja fácil...
E que no coração haja sempre a certeza de um sol lindo e brilhante, capaz de fazer a gente se esquecer até mesmo da pior tempestade.
Que a essência não se perca pelo caminho...
E que você busque sempre a felicidade, independente de todo o resto. Porque isso é tudo o que interessa, no final das contas.

sábado, 31 de dezembro de 2011

Promessas de Ano Novo


Diferentemente do que sempre fiz, desta vez não vou fazer lista de desejos, objetivos e metas para o Ano Novo que se aproxima. É que muitas vezes as promessas de Ano Novo agem arbitrariamente. Quero dizer, ao invés de ampliarem nossos horizontes e nos estimularem a seguir adiante, elas limitam nossas mentes. Você passa o ano todo perseguindo um objetivo pré-determinado (que muitas vezes já nem faz sentido atualmente) e se frustra caso não consiga alcançá-lo. Enquanto isso, várias outras (boas) oportunidades podem ter passado sem que você percebesse, simplesmente porque elas não se encaixavam na sua lista de desejos para aquele ano.
E qual o sentido disso - passar o ano checando uma lista, marcando aquilo que está pronto ou aquilo que ainda falta fazer? A vida tem mesmo que ser assim tão... previsível?
O que, afinal, desejo para 2012? Desejo única e exclusivamente uma vida empolgante, surpreendente, feliz, pela qual valha a pena acordar cedo. E que seja assim brilhante mesmo que algumas metas se percam pelo caminho, porque algumas se perdem mesmo, enquanto outros acontecimentos totalmente inesperados se incorporam aos nossos dias.
Desejo que você se permita... se permita viver, cantar, sorrir, chorar... vencer, mas também que se permita algumas derrotas. E que tire proveito delas; extraia sempre algum aprendizado. Que as lágrimas vertidas não lhe impeçam de sorrir. E não pense que não haverá lágrimas, porque elas irão surgir em algum momento dessa caminhada. Porque elas fazem parte da vida. E que você se permita vivenciá-las. Que aprenda a conviver com o sucesso e também com um possível fracasso, com seus medos, receios. Mas acima de tudo, que o medo jamais lhe tire a ousadia, o espírito livre, a vontade de fazer dar certo. Que você aprecie o vôo sem temer a queda, mesmo que às vezes ela seja inevitável.
Que em 2012 a gente aprenda a valorizar também a jornada e não só a chegada. Que haja vida plena, em todos os sentidos que esse adjetivo comporta.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Olhos de quem quer ver.

Pra ser feliz não precisa de muito não. Porque felicidade não é sinônimo de beleza demais, dinheiro demais, grandeza demais. É isso: felicidade não tem a ver com grandezas. Não precisa ser perfeito pra ser feliz. A verdade é que o mundo tá cheio de motivos de felicidade... Basta olhar ao redor com olhos de quem quer ver. Mais dia menos dia a gente descobre que a vida é bela, é grata. Quando olhamos com atenção, num dia qualquer a gente se pega pensando na vida... e sorrindo por dentro.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Escrever, eis o sonho.


Saudade de escrever assim despretenciosamente, saudade de rasgar a alma assim em palavras mudas num papel. Rasgar a alma e deixar que dela jorre todo o sangue, toda a dor, toda a beleza, todo o lirismo, numa tentativa de compreensão, num desabafo surdo, numa esperança que não cessa. Escrever assim como uma criança tímida, ansiosa em encontrar as palavras certas, escrever assim como uma adolescente frágil que tem sede de multidões. Escrever e me perder na dimensão confusa dos pensamentos escritos, das emoções indistintas e das idéias cálidas; diluindo-me e afastando-me para... encontrar-me logo em seguida. E perceber que em meio a milagres possíveis, num sopro de inspiração, toda a angústia se foi, todos os desertos floriram, as luzes brilharam de novo. Em meio a milagres possíveis, perceber que a escrita me resgata de mim mesma, revela o melhor que há em mim, costurando minha alma rasgada. Me fazendo florir de novo. Descobrir que ela encerra um mundo de possibilidades, mais bonito, mais justo e mais meu. Saudade de escrever assim despretenciosamente, rasgando a alma assim em palavras mudas num papel. E o sangue derramado regou as flores que nasceram. Toda a dor convertida em contentamento. A escrita me fez feliz de novo.

Água


Banho de chuva. Gotas de água, pele, limpeza, frescor. Acreditar que tudo pode ser diferente, acreditar que vai dar certo. Renovação de sentimentos, de idéias, de pensamentos. Barulho de água que parece sussurrar nos ouvidos da gente: "Você consegue, você é capaz, você vai dar conta". Sorrisos, almas serenas, promessas e mais promessas de felicidades futuras. Sonhos resgatados, estimas reconstruídas. Um mundo talvez mais bonito. E a gente acredita. Assim. E só.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

7.000.000.000


Somos sete bilhões. Andamos, comemos, nos vestimos, estudamos, aprendemos, trabalhamos, sorrimos, choramos, enlouquecemos de vez em quando. Construímos, desconstruímos, fazemos, deixamos de fazer, somos tanto e ao mesmo tempo tão pouco. Somos tudo e somos nada, somos sete bilhões. Sete bilhões de pessoas. Sete bilhões de vidas. Quanta responsabilidade. Quanta gente, mas parece que ainda falta alguém (sempre). São tantos os paradoxos, as antíteses, as incógnitas, as esfinges, ninguém é capaz de nos decifrar. Somos sete bilhões, somos alguns e outros mais. Quantos bilhões já se foram, quantos ainda virão?
Sete bilhões de pessoas, soa tão complicado. Mas no fundo é simples assim: somos sete bilhões de pessoas buscando a felicidade. Porque no fundo, o ser humano só quer ser feliz.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

De uma vestibulanda para outros vestibulandos.

Temos mania de querer a vida "pra ontem". Ninguém quer mesmo "perder tempo". Mas entre uma correria e outra, a gente quase sempre se esquece que...
A beleza da vida é justamente essa gama de opções, de possibilidades. Há uma reversibilidade desconcertante e maravilhosa. Digo, você sempre pode voltar atrás e começar de novo. Diariamente, sabe? É isso. Cada novo dia é uma segunda chance. Pra consertar o que anda meio quebrado, pra fazer de novo, e de novo, e outra vez, se for preciso. A gente é que, na nossa ansiedade bem-intencionada, coloca o carro na frente dos bois e acredita que tem que ser hoje, agora, nesse minuto ainda. E, se as coisas não acontecem do nosso jeito, ao nosso tempo, a gente chora e dá chilique, feito criança mimada. Mas a vida é uma escola... e cada nova experiência nos ensina que esperar não é perder tempo. Esperar é se preparar melhor para o bom que está por vir. Isso em relação a tudo... vestibular, relacionamentos, pessoas, carreira. No tempo de espera, a gente aprende, a gente revisa, revê, amadurece o propósito, renova o objetivo, o ideal. O tempo de espera é importante também! Por isso é tão fundamental, às vezes, desacelerar... porque nessa ânsia louca de sucesso e finais, acabamos atropelando a nós mesmos. Na pressa para chegar logo, muitas vezes a gente dá um passo maior do que a perna e acaba perdendo o equilíbrio. E cai. E se machuca.
"Todas as coisas têm um tempo certo debaixo dos céus". Comodismo para uns, zona de conforto para outros, sei lá. Não sei como você encara essa frase, mas eu acredito profundamente nela. Alguma coisa me diz que as coisas acontecem quando elas têm que acontecer. Parecido com aquela história de "tudo o que é pra ser seu vem para você". Claro que as coisas não vêm de mão beijada, isso é evidente e natural. Todas as coisas têm de ser lutadas. Mas a parte que nos cabe é a NOSSA luta. Muito mais do que isso, não podemos fazer. Se você tem feito a sua parte, se você tem consciência das suas lutas, relaxe. Isso é tudo o que importa. Algumas coisas fogem mesmo ao nosso controle. Se não for dessa vez, paciência. Ano que vem tem de novo... uma nova chance, uma nova oportunidade, novas pessoas, novos encontros, novas possibilidades. Uma reprovação no vestibular não diz muita coisa sobre você. Não define quem você é, não diminui o seu valor enquanto ser humano. É lógico que todo mundo quer passar e, se você estudou, se preparou, é normal que você QUEIRA MUITO passar agora, afinal você quer ver o resultado concreto do seu esforço e da sua dedicação. Eu desejo de coração que essa vitória seja sua... Mas, se não for dessa vez, vamos ter um pouco mais de calma. Vamos aprender a respeitar o nosso ritmo, o nosso tempo. Vamos lutar de novo enquanto esperamos nossa vez.

Boa sorte para todos nós! :)

sábado, 15 de outubro de 2011

Sobre tetos vermelhos, rotina, ordens implícitas e não saberes.


Arissa abriu os olhos e contemplou o teto branco do quarto. Teto sem graça. Sem cor também. Afinal, desde quando branco é cor? Branco é branco, branco e só. Arissa estava em meio a tédios. Uma doce menina entediada pode decerto promover muitas mudanças. Levantou-se da cama, olhou-se no espelho, focalizando em primeiro plano seus olhos castanhos. Sempre tão úmidos, olhos tão gelatinosos, oblíquos, aquosos. Pareceriam estranhos a outros olhos? Ela não sabia. Mas gostava deles. Eram... diferentes. Sutilmente diferentes. Arissa apreciava todas as coisas diversas. Talvez por isso estivesse tão incomodada com a sua rotina. Rotina! Que palavra mais nojentinha, ela pensava. Sem graça, sem cor. Que nem o teto do quarto! Não era à toa que o pensamento de Arissa voava tão facilmente. Algo magnético a levava a idéias inusitadas. E se eu terminasse o colégio e decidisse viajar pela Europa inteirinha? Mas e a faculdade, Arissa? Só quero um curso de fotografia. Arissa só desejava aquilo que pudesse aproximá-la dela mesma. Durante as aulas de química, Arissa era a mais avoada. De que adianta saber tudo sobre tabelas periódicas, quando não sei sequer em que acredito? Ai, Arissa. Por quê você tinha que ter sempre perguntas tão complicadas?
E ela quer saber porque tem de haver tantas ordens implícitas no mundo. E ela quer saber porque dizer liberdade soa falso. Arissa, sempre com tantas filosofices. Ai, essa rotina ainda me mata! A vida toda passando, assim, tão veloz, e Arissa nem sequer teve tempo para pensar no que fazer com tantos segundos e minutos ligeiros! A vida assim tão sem graça, tão sem cor... Que nem o teto do quarto. Arissa sabe tudo o que deve fazer. A lista é extensa e ingrata. Mas ainda não descobriu o que quer fazer. São tantas as possibilidades.
E se eu cair? Alguém me levanta? E se der errado? Eu volto atrás e faço certo. E se eu me arrepender? Quem é que se arrepende diante da felicidade?
De repente, a menina cai em si, desvincula-se de tantos devaneios. De uma coisa, Arissa agora tem certeza:
- Esse teto eu vou pintar é de vermelho!

sábado, 1 de outubro de 2011

Bonito mesmo é ser você

Bonito mesmo é ser você. Assim, desse jeito, sem tirar nem pôr.
Sabe os padrões de beleza, de comportamento, disso, daquilo? Aqueles que são ditados pela mídia e blá-blá-blá? Pois é. Esqueça-os. Assuma-se como você é... não faz sentido pautar a vida na busca pela perfeição.
Às vezes nos fazem acreditar que só pode ser bom aquilo que é perfeito. Mas o que é a perfeição? Para mim, é um conceito tão abstrato quanto pessoal. O que é perfeito para mim pode não ser perfeito para você, e vice-versa.
Relacionamentos perfeitos? Pessoas perfeitas? Corpos perfeitos? Vida perfeita? Tenho aqui as minhas dúvidas. Se para você ser perfeito é sinônimo de ser irretocável, em todos os sentidos cabíveis a essa palavra, então não há a mínima possibilidade de haver algo perfeito no mundo.
Mas o que dizer daquelas pessoas que amamos? Apesar de todos os seus defeitos, não se tornam aos nossos olhos seres 'perfeitos'? A época mais feliz de nossas vidas, aquela época que consideramos 'perfeita', era de fato irretocável, em todos os mínimos detalhes? Provavelmente não.
Isso quer dizer que não precisa ser absolutamente perfeito para ser incrível.
Você não precisa ser perfeito para ser feliz e para fazer as outras pessoas felizes. Você não precisa ser perfeito para ser amado, para ser aceito.
Dito assim, isso soa a coisa mais óbvia do mundo, mas a maioria de nós esquece disso no dia-a-dia e seguimos buscando a perfeição, acreditando que só seremos plenamente felizes quando formos melhores nisso ou naquilo, quando operarmos o nariz, quando tivermos uma conta bancária de X dígitos, etc.
A gente vive esperando ser perfeito, para só depois ser feliz. E desejamos tanto, tanto a perfeição que nem paramos para pensar no que ela realmente significa. E se for perfeito, como você sempre sonhou, mas no final das contas não fizer você feliz?
A vida é maravilhosa porque nos permite fazer várias opções. Não tem isso de 'game over', não. A vida é sempre um recomeço. Sempre é tempo de decidir o que é prioridade para você. Buscar a perfeição ou buscar a felicidade? Porque há uma enorme diferença entre uma coisa e outra.
Quanto tempo nós já perdemos esperando para sermos felizes no dia em que nos descobríssemos perfeitos?
Com certeza, muito mais tempo do que a gente gostaria.



"A beleza está no espelho para o qual você olha todos os dias. Curta a sua existência."
De vez em quando todo mundo precisa de um bilhetinho igual a esse, né?
;)