Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Gratidão


Mudanças de hábitos às vezes são necessárias e podem nos fazer mais felizes. Há dias em que parece estar tudo errado, nos sentimos um peixe fora d'água, achamos que nunca encontraremos a felicidade que procuramos. Fica difícil não reclamar, não falar contra a vida, contra Deus, contra as pessoas, enfim, parece humanamente impossível não se deixar prender pelas algemas da reclamação. Mas, se pararmos para pensar, o que ganhamos reclamando? A resposta é exatamente essa: nada. A vida está difícil? Sim, para todo mundo, e dizer que ela está difícil não a torna nem por um segundo mais fácil.
Parece-me que quanto mais dizemos palavras negativas, mais nos enterramos na areia da solidão, do desespero, da tristeza, da angústia, da melancolia. É mesmo um desafio parar, respirar fundo e não reclamar sem parar das coisas aparentemente "erradas" em nossas vidas. Mas eu realmente acho que seja um desafio necessário. Tentar não maldizer a sorte, tentar trocar reclamação por "gratidão". Engraçado é que, muitas vezes, as pessoas que têm reais motivos para reclamar da vida são aquelas que vivem sorrindo, por dentro e por fora, tão gratos, tão... felizes! Tantos nos hospitais, com doenças graves, agradecendo por mais uma respiração! Que tal, ao invés de reclamar por não ter o tênis da moda, a casa mais bonita, o corpo mais perfeito, agradecer por ter pés para andar, um teto para morar e um corpo para abrigar a alma? E se trocássemos as palavras duras por palavras gentis e belas?
É um exercício revelador. No fim, acabamos percebendo que temos muito mais a agradecer do que a pedir.

domingo, 28 de novembro de 2010

Cartas para você.


O mundo está tão moderno, tão avançado em todos os aspectos. Claro que isso é bom -por um lado-, pois nos propicia inúmeras coisas que aumentam nossa qualidade de vida. Porém, venho percebendo que tantas coisas são perdidas nesse processo!

Refleti sobre isso recentemente, através de uma conversa com uma amiga.

Fiquei surpresa quando ela me disse:

- Ana, qual o seu endereço? Quero te mandar uma carta. Eu adoro cartas, é tão bom recebê-las, esperar pelo carteiro... É mais emocionante do que receber um e-mail!

Confesso que parei para pensar sobre a questão das cartas. E senti falta delas. Quando criança, tinha diversos amiguinhos de outros estados, com os quais trocava cartas esporadicamente. O dia em que recebia uma correspondência era, sem dúvidas, especial. Ao longo dos anos, recebi cartões postais, cartas longas, cartas curtas, quase bilhetes, etc. E guardo todas até hoje. Outra coisa que me emociona muito, são os cartões. Por que não se usa mais escrever cartões em datas especiais, como aniversário, casamento, formatura? Será que tudo foi trocado pelo e-mail, sinônimo de praticidade?

Está certo que sou suspeita para falar. Afinal, acho que é dos escritores essa necessidade da palavra escrita, ver as letras desenhando-se no papel, a caligrafia de cada um, que é sempre tão única - dizem até que revela traços de personalidade! Tão romântico ver as carteiras se abrindo, revelando, num cantinho, meio escondida, meio amassada, aquela carta endereçada a você!

Saudades de abrir os envelopes, com cuidado para não rasgar, sentir o cheiro da tinta ainda molhada, ver os borrões - às vezes causados por lágrimas -, analisar cada letra em particular, ler, reler, guardar, levar no bolso, ler na fila do supermercado, reler numa noite de insônia - a carta ali, tão simples, tão certa, sempre à mão... Tudo bem que cartas demoram tanto para chegar, tudo bem que tem a ansiosa espera pelo carteiro, mas, e daí? Elas chegam no final, e é isso que importa.

Para você.

Existem pessoas feitas de sonhos e outras feitas de pura realidade. No meio termo entre o prático e o sonhador, eu encontro você. Você, que é feita de poesia e de prosa, de maturidade e frescor, nem oito nem oitenta: você está no equilíbrio, como deve ser. A cada dia me surpreendo mais e mais com você, que é uma menina com o espírito forte e decidido de uma mulher, uma mulher com o espírito doce e leve de uma menina. Alguém que consegue ver a vida com olhos realistas, mas que não enxerga em preto e branco. Pelo contrário: seu mundo é colorido e cheio de vida, porque você não se fecha a possibilidades... Assim como não se fechou à nossa amizade, e como eu te agradeço por isso! Acho que é isso: quero agradecer. Agradecer por você ter deixado a porta aberta, por ter me compreendido quando eu precisei (tantas vezes!) e por ter se deixado compreender por mim. Por ter permitido que eu conhecesse um pouco da sua história, por ter compartilhado um pouco da minha, obrigada. E mais do que tudo, obrigada por ter se despido de pré-conceitos, de pré-julgamentos. Eles nos deixam cegos, de forma que não enxergamos a verdadeira essência das pessoas. Por muito tempo, eu me prendi a meus próprios julgamentos, afastei pessoas que amava e possibilidades de amar. Por isso admiro tanto essa sua liberdade em ser e em deixar que sejam... acho tudo isso tão lindo, tão poético, tão digno de ser vivido! Quero lhe dizer também que você tem um valor enorme, nunca deixe que ninguém lhe diga o contrário. Você merece toda a felicidade desse mundo, por ser assim tão humana, tão humilde, tão amiga, tão... especial! Nunca se feche a possibilidades que te farão bem, nunca perca a esperança, nunca deixe de sonhar, por mais que a realidade aqui fora seja um pouco dura demais... Quando parecer difícil, apoie-se nos seus ideais, nos seus sonhos, nas pessoas que te amam e acreditam em você. Você pode ser o que quiser. Não deixe que cortem suas asas, não deixe de ser quem você é.
Saiba que estou aqui, torcendo pelo seu sucesso, pela sua felicidade. Daqui a 30 anos, quero ver esses seus olhos claros (lindos!) brilhando ainda mais!
Com muito carinho,
Sua amiga Ana Teresa Viana.

sábado, 27 de novembro de 2010

Para um ilusionista.

Artur,

Devo admitir que essa é a carta mais estranha que já escrevi.
Não sei bem porque a escrevo. Talvez seja simplesmente porque amo o jeito como a caneta arranha o papel, talvez seja porque o tempo me faz sofrer passando tão devagar, tão sem você. Acho que é isso: escrevo porque tenho saudades.
Saudades, Artur. Saudade do dia em que te vi pela primeira vez. Tantas pessoas ao meu redor, e eu fui notar logo você, logo você. O Artur sem graçamente normal; nem o mais bonito, nem o mais inteligente, veja só, Artur, todos diziam que você não tinha nada de especial. Mas e esse seu sorriso, Artur, sorriso de um milhão de watts, capaz de iluminar a cidade inteira? E toda a sua espontaneidade arrebatadora, todo o seu mistério envolvente, você, você que era a contradição ambulante? Eu não pude fazer nada, Artur. Você parecia irresistível. Impossível não sorrir com o seu sorriso, impossível não se apaixonar.
E Deus sabe que eu jurei milhões de vezes não me deixar levar. Eu prometi que te esqueceria, Artur, mas a promessa foi rasgada em mil partes, rasgada por mim, juntamente com todos aqueles poemas que fiz para você. A verdade é que eu fui a garota errada, Artur.
Totalmente precipitada, jovem e romântica, simplesmente a garota que não soube encobrir seus sentimentos. Talvez eu continue sendo a mesma garota errada, errando ao ter saudades de você. Ah, Artur, mas se eu pudesse voltar no tempo, eu teria feito tudo de novo. Choraria as mesmas lágrimas, até mesmo mais doídas. Escreveria os mesmos poemas, talvez até mais apaixonados, e novamente os rasgaria em pedacinhos. Eu faria quase tudo igual, exceto por uma coisa: eu jamais teria dito a você que te amava. Porque hoje eu vejo, Artur, ah, eu vejo que você não estava pronto. Talvez você nunca esteja pronto, Artur, não para mim. Não para me amar. Mas você escondeu essa verdade de mim por muito tempo. Tempo demais. Você era um ilusionista, Artur. Um ilusionista, e dos bons.

Samanta.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Em nossa rotina apressada, em nossos dias atarefados, muitas vezes adiamos a nossa felicidade. Tenho reparado que, com frequência, deixamos de fazer coisas pequenas, mas que nos fariam felizes. Coisas como tomar aquele sorvete de morango, que desejamos durante toda a semana, e que não demoraria nem cinco minutos para comprar. Escrever uma carta para aquele amigo especial, dizendo que não nos esquecemos dele, que nada seria igual se ele não estivesse ali. Ligar para a avó que mora em outra cidade, perguntar como vai a artrite, falar que ama até a boca doer, chamá-la de mulher mais linda do mundo. Abraçar bem abraçado o priminho de dois anos, ensiná-lo os números, a contar as estrelas, a dizer por favor e muito obrigado, brincar de pega pega e terminar tudo com uma cantiga de roda. Porque adiar momentos assim? Porque deixar as relações humanas em segundo plano em nossas vidas? Simplesmente porque alguém disse que devemos priorizar números estatísticas gramáticas redações trabalho trabalho trabalho dinheiro&dinheiro?
Acredito que a única forma de estarmos em paz conosco mesmos é alcançando o equilíbrio.
Fazer o que se tem que fazer, sem deixar de lado aquilo que queremos fazer.
Procurar ser feliz e fazer feliz hoje, porque o amanhã é uma promessa, que pode não existir.
Eu ainda acredito que somos muito mais do que números em relatórios do IBGE. E ainda acredito que a felicidade de um povo não se mede pelo PIB da nação.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010


Quando ele entrou por aquela porta eu soube que o amava. Definitivamente, o amava. Os cabelos curtos, escuros, a pele bronzeada, os músculos proeminentes. Eu amava cada milímetro, cada centímetro que compunha aqueles quase dois metros de altura. Tão forte, tão alto, tão imponente. Mas tão doce, tão delicado, tão envolvente. Nos primeiros dias estranhei aquele silêncio... tanto mistério. Estranhei também aquela terra estranha, aquele mundo estranho ao qual eu devia me inserir. Sei que ele também estranhou esta mulher ocidental, vinda de um lugar tão distante. Sei que estranhou meus trajes, meus modos, minha espontaneidade, minha personalidade falante. Ele também não compreendeu porque uma prisioneira havia sido dada como esposa a um príncipe. Sei que não, porque eu também não compreendi. Com o passar do tempo, passei a entender aquele homem silencioso, aprendi que seus olhares diziam tudo aquilo que eu precisava saber. Percebi que compensava suas poucas palavras com grandes atitudes. Mais que isso: passei a amar o seu silêncio, passei a respeitá-lo em seus momentos solitários. Aprendi que as palavras não precisam ser ditas para terem valor. Aprendi que um abraço carinhoso diz mais que mil palavras. Passei a admirar sua coragem, sua honra, seu cuidado. Aprendi a ser a esposa de um guerreiro, aprendi a ser o porto-seguro, o consolo, a ternura e o aconchego. Ele aprendeu a ansiar pelo toque da sua esposa ocidental, a vislumbrar o meu rosto nos momentos difíceis do combate. Aprendi a vestí-lo com aquela armadura antes de vê-lo partir para a guerra. Ele aprendeu a atar minha veste branca, aprendeu a pentear-me os longos cabelos de ébano. Aprendi a esperá-lo ansiosamente. E quando dei por mim, percebi que havia aprendido a amá-lo. E posso ver em seus olhos que ele aprendeu a me amar, também.

sábado, 20 de novembro de 2010

Doce alma de amigo.


Faço a promessa inútil, já que provavelmente irei quebrá-la, tão logo veja você. A promessa irá se romper magneticamente, automaticamente, assim que eu olhar nos seus olhos. Não sei porque os seus olhos me incomodam tanto... são tão belos, tão sinceros, parecem tão puros e tão iluminados! Mas quando te olho, sinto-me corar, me perturbo, me embaraço, me perco, abaixo o olhar, finjo que não ligo, reviro esses mesmos olhos que olham extasiados para você. A promessa que eu havia feito... Prometi a mim mesma que iria te abraçar, te agradecer por todo o carinho, por toda a atenção. Você foi a fonte de afeto mais inesperada, mais súbita, surpreendente. A mais bela, talvez a única demonstração de apreço que recebi nos últimos tempos. Você se tornou especial quando abriu sua alma para mim e deixou que eu a sentisse, exatamente quando eu mais precisava. A alma de um amigo, tudo o que eu mais queria, tudo aquilo que eu esperava. Tão sensível, tão certo, tão bonito. Na promessa feita eu iria te olhar, dizer que você se tornou um rapaz encantador, e que me orgulho de ter te visto crescer. Diria também que descobri o quanto você é importante para mim. Tocaria a sua face, pedindo ao universo que lhe desse uma vida doce, tão doce quanto a sua doce alma de amigo. Um sentimento tão puro, tão belo, tão correto, que toca os céus. Mas sei que provavelmente não farei nada disso. Simplesmente te olharei, e quando você vier conversar comigo, terei o rosto em chamas e lamentarei a minha triste timidez.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A biblioteca. Os livros velhos nas estantes. As mesas sóbrias. As cadeiras todas vazias, exceto por uma. Aquela no canto, perto da janela, banhada por um raio de sol fresco. No canto da biblioteca, nos cantos da vida, alma parecendo perdida num canto qualquer, em qual esquina perdera mesmo sua identidade? O canto dos olhos escorrendo lágrimas, palavras balbuciadas, choro contido agora extravasado... As lágrimas salgadas ganham os cantos dos lábios, que choro sofrido chorou aquela menina no canto da biblioteca! Choro baixinho, murmúrio, alívio, melancolia, desabafo, chororô adolescer. A água que descia dos olhos escuros. A chuva começando a cair lá fora. Uma, desimportante, solitária, desamparo líquido, regava nada mais do que o rosto já tão molhado, tão róseo -doce rosa em flor!-. A outra, esperada, aclamada, gloriosa, alimento das plantas, da terra, dos seres, dos homens. Tão fraca, tão pobre... pobre lágrima de menina! Tão forte, tão imponente... santo marulhar de água doce vinda do céu!
As paredes tão sólidas, tão velhas, tão fiéis, tão confidentes... quantos segredos guarda as paredes de uma biblioteca!
A chuva pára. Água que chama água. Lágrimas não existem mais. E com o novo sol que vem surgindo, a menina esboça o sorriso mais lindo e sorrindo sai da biblioteca.
A bibliotecária não entende. Quem pode começar chorando, pra depois sair sorrindo?
Balança a cabeça, murmura um segredo: aquela menina está adolescendo.

terça-feira, 16 de novembro de 2010


Dai-me por favor somente aquilo que for simples. Do que é complexo eu já cansei. Dai-me por favor o canto do sabiá livre na mata. Dai-me por favor a liberdade dos sabiás engaiolados - o que é mesmo que o homem tem contra os seres livres?-. Dai-me por favor a delícia daquele sorriso, dai-me por favor felicidade pra mais de mês. Dai-me por favor menos conhecimento, eu quero infinitamente saber menos e sentir mais. Aliás, dai-me, por favor, mais conhecimento dos sentimentos, das emoções, das sensações. Dai-me sinestesia! Dai-me por favor a sabedoria daqueles que vivem muito. Mas antes, dai-me a graça de viver bem. Dai-me muitos dias de Natal, mais que isso, dai-me a capacidade de enxergar o Natal de cada dia. Dai-me também a maciez da chuva quando toca o chão, aquela maciez de quem toca corações a cada pingo. Dai-me sensibilidade. Dai-me viver menos prosa. Oh, por favor, dai-me viver poesia.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Depende da ótica.

Cabelos bonitos são aqueles que se deixam despentear. As mãozinhas da criança, o vento, a brincadeira, o riso, a diversão. Sem medo, sem não-me-toques. Pele bonita é aquela que recebe um beijo, um carinho, um toque, um afago... sem medo de borrar a maquiagem. Sem reservas. Sem futilidades. Unhas bonitas mesmo são aquelas que não têm medo de quebrar. Elas realizam as tarefas do dia-a-dia entregues, apaixonadas, sem um pingo de morbidez. E na maioria das vezes conseguem fazer tudo isso sem estragar o esmalte vermelho. Corpo bonito é aquele que vive, fundamentalmente. Vive sem pressa, sem anseios, sem maldades, plenitude. Corpo bonito pra valer é aquele que recebe uma criança durante os nove meses, nutre, dá a vida e o amor. Preocupação maior é o bem estar do filho, não as estrias. Cérebros bonitos são aqueles que pensam menos dinheiro, status, poder e mais solidariedade, amor, compaixão, bondade. Paisagem bonita não é o Pantanal. Paisagem bonita é uma criança bem nutrida, bem cuidada, bem amada, bem feliz. Obra prima bonita não é aquela de Picasso. Obra prima bonita, de verdade, é a própria vida! Casas bonitas não são aquelas de pinturas caras na parede, carros do ano na garagem. Casa bonita é casa de gente feliz, de verdade. Bonito mesmo não são os óculos; são os olhos por trás deles. E mais bonito que palavras só mesmo as atitudes.

domingo, 14 de novembro de 2010

Paradoxalmente fogo e mar.

Ela é a voz que se levantará quando todas as outras ficarem em silêncio. A garota do andar distraído e cansado, mas que lança fogo pelos olhos. O fogo que tem o mar agitado, em dia de tempestade: inquieta, inconstante, vida em ondas, vai e vem, vem e vai. Aquela das perguntas tolas para quem ouve, mas interessantíssimas para quem pergunta. E dane-se a reprimenda. Ela vai perguntar, de qualquer jeito. Ela tem uma dúvida, e não se cala. Aquela de pouca paciência e muita tolerância, do sorriso fácil e da intuição aguçada. Aquela que é imperfeitamente, simplesmente, ela mesma. Não é a mais bonita, não é a mais divertida; é a mais diferente. Elegantemente recolhida, estado de letargia consciente. Ousadamente extrovertida, sacadas inteligentes. Tão imprevisível quanto a própria vida. Tão humana quanto todos os outros, mais humana que a maioria. Não força simpatia, não força amizade, não força sorrisos, não força a si mesma. É fiel. Fiel à sua personalidade desconcertante, à sua natureza inconstante e irrequieta, fiel ao seu encanto. Não que seja algo exemplar, só não sabe ser de outro jeito. Tantas ideias que mal cabem na cabeça. Tantos pensamentos naqueles olhos escuros, que é melhor não olhar dentro deles, sob o risco de encontrar um novo mundo, e nele querer viver pra sempre. Eis então a melhor definição: aquela, rainha de um mundo novo, totalmente novo, apaixonante e particular. Mensageira de um novo tempo, de uma nova ordem, que quebra correntes, paradoxos, eterno recomeçar. Pois com ela o mar tem fogo em dia de tempestade.

sábado, 6 de novembro de 2010

A piscina pequena.


Gostaria de ter parado o tempo. Sim, parado o tempo, congelado a vida em seu instante mais gentil e mais belo. Parado o tempo naquelas tardes doces de outubro, na infância apressada, porém terna. Viver pra sempre aquela água daquela piscina -tão pequena, meu Deus!- mas que parecia um oceano de imensidão. Água demais, sol demais, diversão demais, felicidade demais, e uma piscina pequena. Pra ser feliz bastava a piscina. Ah, e a bola azul escolhida a dedo. Que estranho pensar que meu mundo já foi do tamanho daquela bola. Que saudade pensar que minha felicidade já foi do tamanho de uma tarde doce de outubro! Outubro costumava ter tardes intermináveis, deliciosas. Mas as tardes de outubro diminuíram com o passar dos anos. Agora as tardes de outubro passam tão rápido, que estamos em novembro, e eu nem as vi passar. Não podemos esquecer dos oito anos e da praia. Então, era só do mar que eu precisava. Um pouco de mar, um pouco de sal, um tantinho de areia, e uma onda gigante. A onda que levava a gente pra praia, empurrada, à força. A tia que vinha buscar a gente na areia, tá tudo bem, então vamos voltar pro mar. Saudade da época em que medo era só de uma onda gigante! Até o medo era azul. Eu não sabia que teria medo de coisas mais graves que uma onda gigante. Saudade da época em que a tia buscava na areia e tava tudo bem, vamos voltar por mar. Saudade da época em que solução era o colo da mãe, que choro era por causa do joelho ralado. Ah, joelhos machucados se curam mais rápido do que corações partidos! Eu não sabia que existia dor pior do que a dor de um machucado. Mas viria a saber. O nível mais alto de ansiedade era aquela vontade enorme, do tamanho da onda gigante. Vontade de crescer, fazer logo 15 anos e ser a moça bonita da bolsa a tiracolo, do sapato de salto alto. Ninguém me contou que crescer trazia responsabilidades maiores. Ok, alguém deve ter me contado, mas eu não ouvi. Não ouvi também dizerem que a bolsa a tiracolo às vezes é pesada demais para se carregar, que o sapato de salto alto machuca e que a moça bonita não fica bonita sempre, e que ela também não tem todas as respostas. Pelo contrário. A moça bonita é apenas mais uma moça buscando suas respostas, tentando se encontrar. E isso é mais difícil do que fazer dever de matemática, mais difícil do que acordar cedo, mais difícil do que ser criança. Tão mais. Nem me dei conta do quanto gostava da piscina pequena. Nem das vantagens de não saber falar otorrinolaringologista! Época simples, até demais pro gosto daquela criança apressada. Só depois fui descobrir que as coisas simples são sempre as melhores, e que às vezes basta uma piscina pequena pra ser feliz.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Presente de Morfeu.

Quando mesmo tive certeza que era você? Acho que foi quando te vi pela primeira vez. Digo ver, porque ainda não te conheço. Não pessoalmente. Pensando bem, desconheço totalmente aqueles que conheço, e acredito conhecer infinitamente mais você, você que apenas vejo. Em sonhos. Sim, em sonhos, poucos e loucos. Porque sou uma menina tão sem graçamente normal, que penso Morfeu ter pena de mim. Sim, pena, muita pena. Porque até mesmo a maioria dos meus sonhos são normais. Morfeu presenteou-me então com aqueles sonhos, os poucos, os loucos. Aqueles em que vejo você, você que é a melhor parte do presente de Morfeu. A segunda melhor parte é que você aparece a cada sonho com uma feição diferente; hoje louro, amanhã moreno. A princípio, ninguém sabe que você é a mesma pessoa. Ninguém, exceto uma menina normal que sonha presentes de Morfeu. Claro que assim não consigo saber como você é, na verdade. Por isso mesmo é bom: posso viver a minha vida sem graçamente normal procurando você. Corro o risco de te conhecer em uma esquina, em qualquer lugar, sob qualquer feição, as que eu já vi e as que ainda verei. Então procuro e sonho, sonho e procuro, é tudo o que eu posso fazer. É tudo o que eu faço com o coração. Mas nos sonhos eu sou sempre a mesma, mas totalmente diferente de quem sou. Claro que sim, afinal sou apenas um rascunho daquilo que serei quando eu afinal te conhecer. O que estou dizendo? Não sei o que sou. Aliás, nem mesmo sou. Ainda não te conheci. Pensam que sou triste. Como posso ser triste quando tenho você? Mas eu ainda não te conheço... Mas eu já te encontrei! Tão melhor ter te encontrado, antes mesmo de ter te conhecido, pois é tão vazia a relação daqueles que se conhecem, mas nunca realmente se encontraram... Tristes são eles. Eu não. Eu tenho você.