Ela achou engraçado ver como a vida nos prega peças. Ela inclusive achou que a vida é um tanto quanto irônica. Ela sempre fora meio moleca, meio levada, se acostumou a ser assim, cresceu e se tornou uma sutil jogadora. Sempre aquela a sorrir para a vida, para as oportunidades. Ela sorria, mas não pensava que um dia a vida sorriria de volta. Sorria por simples deleite, jogava com a vida habilidosamente, flertava com as possibilidades que a atraíam; nunca por esperar algo em troca, mas apenas porque amava se divertir. Um tanto quanto medrosa e por vezes covarde, não foram poucas as vezes em que a menina pensou em mudar seu estilo de vida. Ela cogitava até mesmo se tornar uma garota normal. Porque, bem, ela nunca fora normal, é claro. Acho que foi por isso que a menina achou estranhíssimo quando a vida lhe concedeu seu maior desejo dos últimos anos. Ela olhou para o desejo finalmente realizado, piscou três vezes, olhou de novo, teve medo, até chorou. No fundo ela não queria que ele se realizasse, descobriu por fim. Ela era apenas uma garota sonhadora que gostava de imaginar desejos realizados. Mas era também uma garota medrosa, e tinha medo de ver sua vida mudar completamente através do desejo que se realizou. Descobriu-se infeliz. De que adiantava desejar, se não tinha coragem suficiente para ir até o fim? A pobre menina medrosa de tudo arrependeu-se por um dia ter desejado. Arrependeu-se por um dia ter buscado. Tornou-se além de medrosa, arrependida. Seria para sempre incompleta, incapaz de acostumar-se com a plenitude. Aquela menina, no fundo, tinha medo da felicidade.
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