Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







sexta-feira, 8 de abril de 2011

Texto 05 - Concurso "Deixa a Alma Respirar - 01 Ano!"

O Quinto Lugar do Concurso foi conquistado pela Mariana Tavares Spezani, autora de "Mártir", um texto muito original e interessante. Parabéns, Mariana! Blog da Mariana: http://letraslivros.blogspot.com/

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Mártir

por Mariana Tavares Spezani

Acabara de sair do tribunal, mais uma causa ganha. Fora difícil e exigira muitas noites sonolentas de pesquisas e preparação, mas Letícia não estava feliz. Tentava manter a postura, a face séria e confiante que aprendera a usar, mas na verdade... Aquela dor dilacerava-a. Como poderia doer tanto assim? Era tão recente e, no entanto, a dor era tão profunda!

Logo hoje que fora trabalhar sem carro... Era mais torturante ainda ir andando pra casa, tentando não chorar ou fazer cara feia. Era uma cidade não muito grande, todos se conheciam, ela precisava manter a compostura! Mesmo que cada segundo a torturasse, heroicamente caminhava até sua casa, não muito longe, mas - ah! - como a dor era profunda!

Alguns dizem que dor é psicológica, basta se concentrar e você verá que, na verdade, não sente nada. Letícia adoraria ter uma conversinha com essas pessoas agora. Elas nunca deveriam ter sentido a dor que ela estava sentindo. E como era difícil manter a expressão séria quando tudo que queria era enroscar-se em um canto e morrer... Era desumano sentir tamanha dor!

Faltavam 3 quadras. Será que já sentira tanta dor assim na vida? Céus...

Uma mulher parou em sua frente, bloqueando a passagem e obrigando-a a parar. Sorria abertamente, uma velha colega de classe, da turma de direito. Tagarela, eternamente feliz. A pessoa errada para se encontrar em um momento como aquele.

- Letícia querida! Quanto tempo!

- Realmente, Lúcia. Você anda sumida. Mas eu to com um pouco de pressa...

A dor tendia a piorar, dava vontade de chorar. Com mais algumas palavras tolas e falsas, finalmente lúcia foi embora e Letícia pôde continuar seu caminho.

Duas quadras apenas.

Por mais que fizesse força, não conseguiu. A essa altura, as sobrancelhas franziram e a expressão de intensa agonia tomou conta de seu rosto. Mas como era forte aquela Letícia!

Conseguiu recompor-se apenas dois passos após. Tinha de ser policiar, ser disciplinada.Mais uma quadra e estaria em casa! Não que estar em casa pudesse ajudar realmente. Duvidava que até mesmo um tiro pudesse doer tanto.

Estava dividida entre o instinto de correr e a necessidade racional de manter o ritmo da caminhada. Faltava tão pouco... E doía tanto! Espetadas de agulhas pontiagudas... Facas rasgando-a.... Nunca fora o tipo de mulher que tem medo de barata, chora à toa e vive desmaiando mas, ao experimentar aquela dor, reconheceu que desmaiar seria perfeito. Uma saída muito fácil.

Finalmente... FINALMENTE. Entrou em seu prédio, grunhiu um rápido "boa noite" para o porteiro, nem mesmo viu se havia recebido cartas. Seu foco era penas o elevador.

Graças a Deus, estava subindo a caminho do 10º andar, seu apartamento! Sonhava com um banho, um descanso no sofá. Se ver livre da dor, quem sabe? Se nada desse certo, talvez tivesse algum veneno de baratas em casa que pudesse tomar... Qualquer coisa pra não ser mais torturada.

8º... 9º andar... Parecia uma eternidade. Aquele elevador sempre fora tão lento assim? Parecia que ria de seu desespero, de seu suplício. Quando finalmente entrou em casa, a irritação por aquela tortura ridícula superava toda a dor.

Trancou a porta, tirou a sandália que comprara essa semana e, apesar de maravilhosas e caras, jogou-as no lixo.

Finalmente, livre do tormento para sempre!

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