E de repente você se pega pensando na vida, na morte, no amor, na dor, no medo, em tudo. Bem na frente da TV, em meio a um telejornal que narra a morte de 13. E você começa a pensar também na fragilidade da vida, na ilusão do "para sempre", na mentira apregoada "há muito tempo pela frente". A verdade é que pode não haver tempo nenhum. A verdade é que o "para sempre" sempre acaba mais cedo do que podemos prever. Assim como as 11 garotas e os 02 garotos que provavelmente pensavam ter "a vida inteira" pra viver, que faziam planos para o final de semana, e que talvez pensassem em mandar um cartão de pedido de desculpas à mãe, por não ter lavado a louça quando ela pedira. Alguns preocupados com a prova da semana que vem - quem sabe?-, ou até mesmo ensaiando um pedido de namoro a ser feito praquela pessoa especial... 12 a 14 anos. Tão pouco tempo para quem pensava possuir a vida inteira! Talvez imaginassem morrer um dia. Mas com 80 anos, cinco netos a segurar-lhes as mãos enrugadas, e dois filhos a conversar com o médico. Provavelmente, eles não imaginaram que morreriam ontem. Não podiam imaginar, porque lá fora o sol brilhava, e o dia prometia, e havia a promessa de um futuro melhor. E havia ainda o final de semana, e poderiam então jogar todo o futebol esquecido nos dias de semana, e ir ao shopping, à casa da Fernanda ou da Julinha, e ainda podia ter até bolo de aniversário pro irmão caçula. E então no domingo à noite, iriam lamentar a eminente chegada da segunda-feira, e toda a lição, e tanta matemática. Mas iriam acordar na segunda! Iriam respirar, iriam caminhar sorridentes rumo à escola! E haveria farra e conversa paralela de enlouquecer o professor, todos contando ao mesmo tempo as novidades do final de semana. E isso faria toda a matemática valer a pena. Tantas vidas interrompidas aos doze! Tantas mais aos treze, aos quatorze! Interrompidas na marra, ao som de revólver disparando, balas estourando, e queimando, e doendo. Cheiro de medo e sangue no ar. Há quem diga que o melhor é ter mesmo 15 anos; outros preferem ter 18 e poder dirigir. Bom, eles nunca saberão. Estão todos adormecidos. Não vão crescer, não vão viver, não vão se casar, não vão ter filhos, nem fazer faculdade. Paralisados para sempre aos 12, 13 e 14 anos.
É quando você acorda dessa divagação sobre a vida, sobre a morte, sobre o ser ou não. E consegue pensar numa coisa só: poderia ser seu filho, seu irmão, seu amigo, seu pai, sua mãe. Poderia ser você, afinal. De repente, você se dá conta de que a vida é breve, que o "pra sempre" não existe, que as pessoas que você mais ama não estarão do seu lado para sempre, que a vida é uma borboleta que pode sair voando, inalcançável, a qualquer movimento mais brusco. E, de repente, você percebe que hoje é um presente, que essa hora é um presente, que esse minuto, esse segundo, esse milésimo, são todos presentes preciosos. Preciosos demais para se gastar de qualquer jeito, com qualquer coisa, com qualquer verdadezinha egoísta, com qualquer sentimento mesquinho. A vida é agora, acontece agora e não daqui a cinco minutos. Sim, cinco minutos fazem muita diferença.
O que será que todas essas crianças terrivelmente mortas trocariam por mais cinco minutos de vida?
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(Às vítimas da escola de Realengo.
O que poderia dizer a vocês, meus queridos e minhas queridas? O que dizer a vocês que amenize um pouco a dor, o sentimento de revolta, o sentimento de perda, que justifique todo o medo? Palavra nenhuma que eu disser, escrever, gritar, fará com que tudo se transforme apenas num cruel pesadelo. Nenhuma palavra minha tem o poder de fazer com que vocês se levantem e voltem a respirar. Então, ofereço a vocês o melhor que posso: meus pensamentos, minhas orações e esse texto, que é dedicado a vocês. Desejo que todos vocês sejam acolhidos por Jesus, recebidos com um abraço de Pai que só Ele pode dar. Dizem que Ele tem o melhor abraço do mundo, meus queridos. Um abraço que cura as dores, que apaga as tragédias, que retira o medo e devolve a paz. É isso: desejo que vocês sejam abraçados por Jesus e acolhidos por Ele no paraíso. Fiquem em paz.)
Linda homenagem, Ana.
ResponderExcluirAbç