Quem nunca conversou com um estrangeiro não vai saber do que estou falando. Ou melhor, vai sim. Todos os brasileiros, residentes em nosso território ou dispersos pelo mundo, estão cansados de ouvir, dentro e fora de nossas fronteiras:
" - Ah, o jeitinho brasileiro..."
" - Ouvi dizer que o Brasil é um país muito corrupto."
" - O brasileiro tem fama de ser preguiçoso, malandrão. Dizem que adora tirar vantagem de tudo!"
Enfim. Essas tristes sentenças e suas possíveis variáveis são ditas mais vezes do que o imaginado. Alguns sorriem amarelo ao ouví-las, outros gargalham abertamente ou ficam muito bravos, e há ainda uma pequena (se Deus quiser, bem pequena) parcela de gente que se sente orgulhosa. Isso mesmo. Orgulhosa de seu jeitinho, que lhe possibilita conseguir aquilo que quer, não importando a custa de quê. Isso eu realmente acho lamentável. Acho que é tanta pobreza de espírito, que não merece sequer mais um comentário.
Mas o pior de tudo, é que o bom brasileiro - sim, aquele honesto, trabalhador e íntegro, que devolve os 10 centavos a mais que recebeu no troco do pão (sim, ainda existe honestidade no mundo. Não, honestidade não saiu de moda) - acaba levando a má-fama que não merece. Porque quando os Estados Unidos "presentearam" o Brasil com o personagem da Disney "Zé Carioca", desde sempre retratado como preguiçoso, malandro, desonesto e fanfarrão, ninguém se lembrou que nem todo carioca é um Zé Carioca. Melhor ainda: ninguém se lembrou de que existem brasileiros muito diferentes desse tal Zé Carioca. Resultado: enquanto os E.U.A. têm o Superman, símbolo de todo o bem que um ser humano pode fazer, nós aqui do Brasil arrastamos pelo mundo afora o Zé Carioca. Enquanto a Liga da Justiça americana inspira gerações do mundo inteiro com ideais (em tese) nobres, a nós brasileiros nos foi dado pura e simplesmente o Zé Carioca. Você está satisfeito com isso? Eu não estou.
Não estou satisfeita porque acredito no Brasil. Amo meu país, admito suas falhas, seus defeitos, mas admito também a fé de nossa gente, o brilho de nosso olhar que anseia por dias melhores, a garra com que somos capazes de lutar por nossa sobrevivência. E eu simplesmente me recuso a partilhar desse discurso arrogante de certos ditos brasileiros que afirmam que "este país não tem mais jeito". Tem jeito, sim. Mas o que você, eu, cada um de nós temos feito para dar um jeito em nosso país? Temos acompanhado o candidato que ajudamos a eleger, suas políticas, seus esforços (ou a ausência deles)? Temos exigido obras públicas de qualidade, ensino público de qualidade, temos nos preocupado realmente ou ficamos apenas no falatório? Fomos às manifestações populares, apoiamos as greves que exigem salários dignos para o profissional da educação (base de toda uma nação!) ou ficamos aí parados, dizendo que "este país não tem mais jeito"? Temos dado um bom exemplo às crianças ou jogamos lixo nas ruas, fomos arrogantes com o vendedor, com a faxineira, desrespeitamos as leis do trânsito?
E quanto à vida particular? Será que realmente estamos fazendo o melhor que podemos?
Como exigir honra e integridade dos nossos representantes engravatados se pegamos aquela caneta que não é nossa de propósito, se não devolvemos os dez, vinte centavos que recebemos a mais no troco (ou até mesmo os dez, vinte, cinquenta REAIS), se furamos as filas, e fazemos vista grossa com todas essas falhas? Não estaremos alimentando a corrupção, este mal que deteriora nossos bosques que tem mais vida?
Será que quem não é honesto no pouco, nos dez centavos, pode ser honesto no muito, nos milhões, nos bilhões?
Eu não quero que meus filhos ouçam de estrangeiros que o Brasil é o país da corrupção. Não desejo isso a nenhuma geração. Então, resolvi escrever esse texto, que pode até ser taxado de "chatice politicamente correta". Não me importo, porque acho mesmo que estamos precisando de "chatices politicamente corretas". E atenção, queridos estrangeiros: não são apenas os brasileiros que precisam ouvir essas coisitas. Vocês também precisam. O mundo em geral precisa entender que um mundo melhor começa a existir quando as pessoas buscam ser melhores.
Ninguém é perfeito. A única diferença é que existem imperfeitos que buscam ser melhores a cada dia e imperfeitos que não fazem questão de se aperfeiçoar.
Desejo ser a primeira opção, sempre. E você? De que lado você vai ficar?
Oi Ana,
ResponderExcluirSeu desabafo é pertinente, nesse momento que somos a 7ª economia do mundo e o único detentor de tecnologia de produção em larga escala de biocombustível e, se o pré-sal vingar, o terceiro maior exportador de petróleo do mundo. Um potência dessa se faz com o operário que perfura poços a salários mórdicos, com pais e mães cortando cana em troca de centavos por dia, e por aí vai outras coisas que tornam o brasileiro digno de ser respeitado, neste caso, lá fora e mais ainda aqui dentro.
Abçs
Concordo com você. As pessoas deveriam dar mais valor ao nosso país e não querer mudar pra outro. As pessoas deveriam deixar o nosso país mais bonito, mais divertido, mais limpo. Mas não, os próprios brasileiros julgam seu país sem fazer nada para ajudá-lo. Tem coisa pior? Creio que não. Todo mundo deveria dar valor ao lugar onde vive. Só assim, não só o nosso Brasil, mas como o mundo em si, poderá mudar.
ResponderExcluirBeijos.
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