
De repente você se vê andando por caminhos nunca antes percorridos, se vê falando com pessoas que jamais imaginou conhecer, se vê vivendo uma realidade que nunca pensou que um dia pudesse chamar de sua. Então você pára em frente a um espelho qualquer e analisa a imagem que ele reflete. Não, você não mudou nada. Mas, ora, por que parece ter passado tanto tempo? Tanto tempo desde... sempre? Por que as coisas estão tão diferentes, por que a vida deu assim esse giro de cento e oitenta graus, essa guinada radical? O que fazer com tanto medo, com tanta indecisão, o que fazer com tanta vontade de fazer dar certo, o que fazer com tanto deslumbramento, agora é você mesmo quem tem que decidir. Você se percebe pensando no quanto está rodeado de pessoas e irremediavelmente só, porque no final das contas é só com você mesmo que você deve contar. E agora é você quem tem que ser forte, e botar em prática todas aquelas palavras bonitas que um dia leu. Agora é você quem tem que fazer dar certo, saber onde pisar, quando correr, com quem chorar. E você chora, por que de repente se descobre meio adulto, cedo demais. E você quer, por Deus, você quer realmente ter todas as respostas. Você quer dar conta de tudo, você quer que isso seja bonito, soe bem, porque afinal, meu Deus, afinal é a sua vida que você está construindo, não é? Mas ter tanto sobre as costas é pesado, e uma hora a dor teima em aparecer. E a gente não sabe, simplesmente não sabe, o que fazer.
De repente você se vê observando um jardim qualquer, sentado num banco qualquer, procurando por uma resposta qualquer. E você acaba percebendo que talvez ande pensando demais, sentindo demais, sofrendo demais. Querendo saber demais. Por que ter todas as respostas, isso já é querer demais.