Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







domingo, 21 de agosto de 2011

Série "Uma Carta para você" - Primeira Carta: Ao Tempo, com carinho.


Querido Tempo,

Você passou depressa, meu amigo. Ainda ontem éramos duas crianças brincando, alheias a tudo, a todos, ao mundo. Alheias a nós mesmas, até. Você não era tão importante, é verdade. Afinal, o que eram os meses, os anos? Confesso que isso não tinha para mim valor algum. Não podíamos dimensionar grandezas tão inúteis naquela época. As datas me pareciam totalmente abstratas, apenas uma voz adulta que de vez em quando perturbava, tão distante que soava irreal. Não havia preocupações, querido Tempo. A vida cabia toda num único instante, num sabor de sorvete, numa tarde no parque, na água gelada da piscina. Tudo era tão simples. Quem é que se preocupava com o dia de amanhã? Os adultos, certamente. A nós, crianças, cabia apenas a delícia do hoje, a glória do agora, a alegre solidez dos minutos bem aproveitados, sorvidos com avidez. Para nós, o amanhã não existia. Após o hoje, haveria um novo hoje, e outro, e outro mais. A incerteza do futuro não tinha poder sobre nós. Íamos, assim, felizes, munidos de sorrisos, travessuras, molecagens. Grandiosos príncipes e princesas, cavaleiros, desbravadores de milhões de mares, bailarinas, marinheiros, astronautas, possuidores de todas as garantias. O mundo era nosso, e cabia na palma de nossa mão.
Ser criança era de fato algo muito simples. Porque criança não tem essa de 'ser ou não ser', não existe a hipótese dessa questão. Ela é. O que quiser. E só.
Mas aí veio você com sua curiosidade medonha, Tempo. E as coisas mudaram de repente. Você abriu o portal para uma nova dimensão, o qual atravessamos juntos, em meio a passos vacilantes.
Então você se fez notar. Abriram a temporada de prazos e datas-limites. Uma judiação o que fizeram com você, querido amigo. Tolheram a sua liberdade. Penso em como você deve se sentir. Um sujeito outrora tão livre, tão cheio de si, em poucos anos preso, arregimentado, minuciosamente controlado. Tão triste viver assim!
Ai, Tempo. Tenho pena de você. Tenho pena de nós dois. Sei que não era para ser assim; você e eu planejamos tudo de forma tão diferente! Na nossa maneira de conceber o futuro, as coisas seriam mais pacatas e mais serenas. Éramos dois sensíveis, você se lembra? Dois utópicos sonhadores...
O nosso erro, querido Tempo, eu já sei qual foi.
O nosso erro foi ter pensado a vida sob a ótica ingênua das crianças.

Abraços nostálgicos de quem muito sofre a sua ausência,
Ana Teresa.

Um comentário:

  1. Oi, Ana!
    Há muito tempo não comento os seu textos. "Falta de tempo", talvez, ou até mesmo, descuido, quem sabe... E agora, lendo esse seu lindo texto, vejo que tenho que driblar o tempo, fazendo dele um aliado e voltar a visitar o seu blog. Só terei a ganhar com isso. Essa sua carta ao tempo... Além de ser linda, é triste. Um lamento melancólico de alguém que queria ter mais tempo para viver realmente e pra ser mais feliz . Sinto muito, minha filha! Por isso, quando der vontade, pare um pouco, pense mais em você, aproveite e prolongue um pouco mais um momento alegre, ganhe tempo, faça rodeios, escolha o caminho mais longo; afinal, penso que tudo é válido para que mantenhamos a felicidade por mais tempo na nossa vida. E não se esqueça, Ana: eu te amo! Hoje e sempre e em todo o tempo. Beijos.

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