Bem vindo ao meu universo! Neste blog você encontrará textos de autoria de Ana Teresa Araújo Viana. Alguns textos são reflexões sobre diversos assuntos, outros são apenas o resultado de alguma madrugada inspiradora. Sem mais delongas, Deixa a Alma Respirar!







sábado, 20 de agosto de 2011

Aquilo que eu não disse.

Tenho andado pensando em tantas coisas. Preocupando-me com tantas coisas. Tanto a fazer, tantos horários a cumprir. Nessas idas e vindas, quase me esqueci de você. Eu disse 'quase', veja bem. Em meio a uma reunião de negócios, ou simplesmente voltando do escritório, quando sinto a brisa fresca da tarde a tocar-me o rosto, lembro-me do quanto você gostava do vento. E vem à minha mente a imagem do seu vestido leve de verão, seus cabelos cor de mel espalhando-se em milhares de direções distintas. Impossível esquecer. Escuto seu riso fresco, vejo novamente seus lábios entreabrirem-se revelando um doce sorriso. E, num instante de louca inspiração, penso ouvir a sua voz. Viro-me, procuro por você e tudo o que encontro é a sua ausência. Então me lembro das suas explicações sobre furacões e tornados. "São apenas ventos furiosos, Miguel", você costumava dizer. Lembro de achar você tão louca. Tão louca, meu Deus. Todas aquelas idéias cosmológicas, todo aquele vinho regado à filosofia, os sete brincos na orelha esquerda, a paixão por comédias românticas e cachorros, as lágrimas vertidas copiosamente ao assistir o último capítulo da novela das oito... e, ainda por cima, aquela mania de falar sobre ventos. Você era tão diferente de todas as pessoas que eu conhecia. Suas poesias rabiscadas no caderno de economia do jornal matutino. Sua mania de neologismos que eu quase nunca entendia. Sua maneira nada sutil de fazer-se notar. Lembro-me de perder o rumo da conversa quando encontrava seus olhos morenos ali boiando no caminho. Lembro-me de esquecer a pronúncia das palavras quando ouvia você chamar meu nome. “Miguel, você viu o jornal de ontem? Um tornado, em algum lugar... Ei, Miguel, você acha que eu deveria tatuar um ciclone nas costelas? Miguel? No que você está pensando? Miguel! Miguel!”
E eu, que achava absurdo seu riso parecer tão sincero, eu, que me perguntava se tanta felicidade podia de fato existir, fiquei perplexo na primeira vez em que me peguei pensando em você.
Tantas palavras não ditas. Tenho a impressão de que você sempre esperou ouvi-las.
Eu te amava tanto. Amava tanto ao ponto de deixar bem escondido. Aquelas ligações anônimas que você recebia de madrugada? O buquê de flores sem cartão que você recebeu no trabalho? Fui eu. E, onde quer que você esteja, por Deus, saiba que não há um único dia sequer em que eu não deseje voltar no tempo. Pra fazer tudo diferente, sabe? Colocar um cartão assinado por mim naquele maldito vaso de flores. Te ligar num horário normal convidando para ver aquele filme que ficou em cartaz por duas semanas. Você queria tanto ver aquele filme.
Todas as coisas do mundo me parecem tão inúteis agora. Nada trará você de volta. Você se foi para sempre.
Tantas palavras não ditas. Tenho a impressão de que você sempre esperou ouvi-las.
E eu sempre quis dizê-las.

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